A leitura das justificativas de autoridades acusadas de corrupção não deixa dúvida. Marcelo Odebrecht, o patriarca Emílio e as sete dezenas de executivos da gigante do cimento devem estar participando de um embuste.
Afinal, as centenas de denúncias contidas na maior delação premiada da operação Lava-Jato foram categoricamente desmentidas por todos os implicados. Nenhum deles admite culpa. Quase todos demonstram revolta.
São muitas as alegações dos supostos meliantes do erário para rebater a sanha denunciatória do clã Odebrecht. A Justiça Eleitoral aprovou minhas contas, as doações foram legais, não tenho nenhuma relação com os executivos, nego as irregularidades, é preciso distinguir mentiras e versões alternativas da verdade, não recebi nenhum centavo deles.
Há reações mais exaltadas. Trata-se de citação leviana, estou indignado, os delatores estão desesperados, estou perplexo com a menção a meu nome, tenho convicção da minha inocência. Por fim, promessas. Se alguém descobrir que roubei, renuncio o mandato; não sou nem jamais serei corrupto.
Como se vê, somente muita má vontade para duvidar das autoridades denunciadas. Resta saber, agora, por que os delatores resolveram engendrar uma trama inexistente, embora consistentemente detalhada.
Não há como negar, por exemplo, que os depoimentos revelam verossimilhança. O que significa que foi necessário combinar 77 denúncias para que não houvesse contradições.
Provavelmente todos foram treinados para evitar inconsistências. Foi preciso, ainda, conceber um enredo contendo um departamento de propina, documentos incriminatórios, softwares específicos e planilhas com apelidos comprometedores.
Também é certo que a empreiteira vai pagar uma dinheirama à Justiça, mais de R$ 6 bilhões, uma espécie de multa pelo pagamento da propina. Mas se os delatores estão mentindo, por que devolver o dinheiro que não foi roubado? Capricho de bilionários? Vá entender.
Por Itamar Garcez - 15/04/2017 - 07h00 - OS DIVERGENTES por email 15/04/2017 - 12h03