SAN FRANCISCO – Algumas pesquisas mostraram que beber álcool com moderação, ou seja, no máximo 2 copos de bebida alcoólica ao dia para um homem e 1 copo para 1 mulher, pode ser algo benéfico para a saúde, particularmente na prevenção de doenças cardiovasculares como o infarto. Entretanto, um recente estudo que analisou milhares de hospitalizações no Texas mostrou que a situação aparenta ser mais complexa, pois o álcool estaria associado a um aumento significativo da fibrilação auricular, um distúrbio no ritmo cardíaco. Um médico que aconselha ao seu paciente beber uma taça vinho por dia deveria talvez rever a sua opinião ou ao menos adaptá-la a cada pessoa.
O álcool é proibido em algumas regiões dos Estados Unidos
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCSF), examinaram dados provenientes de pessoas hospitalizadas no Texas. Neste grande Estado do Sul dos Estados Unidos, em sua maioria conservador, existem alguns Condados (counties em inglês) que até hoje interditam o álcool, embora haja tendência à sua paulatina diminuição. Um Condado é uma jurisdição nos Estados Unidos que se, para simplificar, assemelha-se a um município. Os Condados que proíbem o álcool equivalem a um vestígio da proibição, instaurada nos anos 1920 e 1930 nos Estados Unidos. O Texas reúne 254 Condados, ou seja, pouco menos de 10% de todos os Condados dos Estados Unidos. No momento da realização da pesquisa, 29 Condados proibiam a venda de álcool e 7 passaram da interdição à legalização da venda.
Mais casos de fibrilação auricular
Comparando os diferentes Condados, os pesquisadores californianos realizaram interessantes descobertas. Eles notaram que os Condados em que o álcool estava facilmente disponível apresentavam mais casos de fibrilação auricular, por volta de 5% a mais, porém, menos casos de infarto do miocárdio e de insuficiência cardíaca. No detalhamento, os Condados “alcoolizados” apresentavam 17% a menos de infarto do miocárdio que os Condados “abstêmios”.
Amplo estudo
Para chegar a estas conclusões, os cientistas efetuaram um estudo de coorte observacional, baseando-se nas vendas de álcool, permitidas ou ilegais, em alguns Condados do Texas. Foram analisados, os dados de mais de 1.100.000 pacientes com idade de 21 anos ou mais, residentes quer seja em um Condado no qual o álcool era autorizado ou em outro em que era proibido, pacientes estes que deram entrada em um hospital do Texas entre 2005 e 2010. A identificação baseou-se no banco de dados Texas Inpatient Research Data File.
Distúrbios hepáticos
Sem surpresa, numerosíssimas pesquisas já mostram que nos Condados em que o álcool estava com a venda liberada os pesquisadores observaram um número superior de casos de doenças hepáticas e de problemas associados ao álcool, em comparação com os Condados ditos “abstêmios” (com proibição do álcool).
Conselhos personalizados
Segundo Gregory Marcus, professor associado na UCSF e principal autor da pesquisa, ao se expressar no jornal americano de referência The Wall Street Journal, na edição de 21 de junho de 2016: “Não é simples saber se o álcool (N.R.: em quantidade razoável) é bom ou nocivo”. Isso depende de cada indivíduo”.
O professor de São Francisco estima que o futuro provavelmente consistirá em uma avaliação do risco genético para cada pessoa, a fim de se saber se uma quantidade de álcool, até mesmo moderada, poderá se mostrar benéfica ou não, notadamente no tocante à saúde cardíaca.
Todavia, o estudo apresenta certas limitações, pois os pesquisadores não lograram determinar a partir de qual quantidade de álcool ocorreria o aumento do risco de fibrilação auricular. Além disso, como este trabalho foi de cunho observacional, existem por definição certas limitações. Entretanto, como a pesquisa envolveu mais de um milhão de pessoas, trata-se de um estudo significativo e capaz de fazer com que a ciência evolua.
Este estudo foi publicado na revista especializada BMJ, em 14 de junho de 2016.
A ser retido deste estudo:
– Ao analisar diferentes Condados do Texas, os pesquisadores notaram que os Condados em o álcool estava legalizado apresentavam mais casos de fibrilação auricular, da ordem de 5%, mas menos casos de infarto do miocárdio (menos 17%) e de insuficiência cardíaca, comparativamente aos Condados em que o álcool estava banido.
30 de junho de 2016. Por Xavier Gruffat (Farmacêutico formado na. EPF Zurique – ETH, dipl. MBA FIA/USP). Fontes: Resumo da pesquisa do BMJ (http://www.bmj.com/content/353/bmj.i2714), The Wall Street Journal (edição de 21 de junho de 2016), Wikipedia.org (artigo sobre os Condados dos Estados Unidos). Créditos fotográficos: Fotolia.com, Creapharma.ch.
Site Flipboard/ CRIASAUDE/R7