Agência de Notícias das Hepatites
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27/07/2016
Neste 28 de julho, Dia Mundial da Hepatite, a atenção dos governos é desproporcional ao tamanho do problema. Desde 2013 o número de mortes causadas pela hepatite viral é superior a soma total de mortes causadas por outras três epidemias, aids, tuberculose e malária, mas a atenção dos governos e da mídia ainda não despertou para dar as hepatites virais a necessária visibilidade. As hepatites causadas por vírus são a 7ª causa de morte no mundo, sendo as hepatites B e C responsáveis por 95% das mortes. A maioria da mortalidade é atribuível ao câncer de fígado e cirrose.
Existe vacina efetiva para prevenir a hepatite B e medicamentos que curam a hepatite C, no entanto, em contraste com a aids, a tuberculose e a malária, mecanismos para financiar intervenções em países pobres são praticamente inexistentes, exceto para os indivíduos que também estão infectados com o HIV. O aumento do financiamento internacional é necessário para enfrentar a carga das hepatites que possam permitir respostas eficazes nos países de baixa renda.
O peso das hepatites B e C, as mais mortais, varia nas regiões geográficas. A mortalidade causada pela hepatite C é maior na Europa, Oriente Médio, Américas e África do Norte, enquanto que na África Subsaariana e grande parte da Ásia as mortes são consequência da prevalência da hepatite B.
Os medicamentos para cura da hepatite C são caros, mas o preço para tratar os infectados é inferior as despesas que ocasionará não tratar a doença e ter que cuidar num futuro próximo as suas complicações, como a cirrose, o câncer de fígado e a necessidade de transplantes de fígado. Um terço dos infectados, se não tratados, morrem em média aos 56 anos, uma perda de 17 anos de vida produtiva!
O caso do Brasil
O Brasil nos últimos anos passou a dar maior atenção as hepatites virais. O Ministério da Saúde por meio do Departamento DST/AIDS/Hepatites Virais possui um plano estruturado e com políticas definidas, mais ainda incipiente quanto a recursos.
É estimado que existam 2,3 milhões de brasileiros infectados com hepatite C e aproximadamente 1 milhão com hepatite B. Encontrar esses infectados rapidamente é o grande desafio. Aproximadamente 80% dos infectados não tem conhecimento da sua infecção. Uma vez diagnosticados o tratamento passa a ser o seguinte passo, ainda mais desafiador.
O tratamento da hepatite B, doença transmitida principalmente pelo sexo ainda não tem cura. Possui efetivo controle com um tratamento simples de um comprimido ao dia, e a forma comprovadamente efetiva para evitar novos infectados é vacinar toda a população.
Na hepatite C a transmissão sexual é muito rara de acontecer, não tem vacina, mas tem um tratamento que em somente 12 semanas consegue curar 95% dos infectados. O problema é o preço do medicamento. Nos países ricos cada tratamento custa entre 84 e 150 mil dólares. O Ministério da Saúde compra de forma centralizada conseguindo negociar descontos que no ano passado alcançavam 90% e na compra que deverá ser anunciada nos próximos dias o desconto é superior a mais de 95% do preço original, o menor preço entre os países em desenvolvimento, um exemplo de negociação colocado como modelo pela Organização Mundial da Saúde.
Em 2015 o Brasil ofereceu 15.000 tratamentos na hepatite C, este ano é estimado que chegaremos a tratar 30.000 infectados e em 2017 a promessa é alcançar 45.000 tratamentos. Isso se o Ministério da Saúde cumprir o prometido e realizar a compra ainda neste mês, o que será uma boa notícia, mas ante mais de 2 milhões de infectados será necessário chegarmos a tratar mais de 100.000 infectados por ano para realmente podermos afirmar que estamos enfrentando efetivamente a epidemia e assim poder cumprir a meta 90/90/90 da Organização Mundial da Saúde quando em 2030, 90% dos infectados deverão estar diagnosticados, desses 90% em tratamento e 90% curados.
Neste Dia Mundial da Hepatite deixo a sugestão para que os planos de saúde diagnostiquem e tratem as hepatites B e C. É absurdo que praticamente todos os tratamentos sejam realizados gratuitamente no SUS, inclusive os dos 50 milhões de brasileiros com planos de saúde. Se entendemos os planos de saúde como uma saúde suplementar porque os planos não passam a tratar as hepatites B e C e o governo fornece os medicamentos? Estaríamos dessa forma ajudando a melhorar a superlotação dos hospitais públicos, deixando os mesmos para os brasileiros mais carentes e a saúde privada seria realmente suplementar.
(*) Carlos Varaldo é fundador e presidente do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, ONG sem fins lucrativos fundada em 1989 atualmente com 32.000 associados.
Promove a educação em doenças do fígado para pacientes, familiares e profissionais da saúde. Participa ativamente de congressos científicos nacionais e internacionais, promove pesquisas e atua ativamente no advocacy perante o governo e as autoridades da saúde.
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